Antes, ao refletir
sobre nossa sociedade, meus pensamentos estavam “contaminados” por uma série de
construções normativas, ou seja, por ideias que fazem parte de uma arquitetura
política que sempre ofereceu e continua querendo manter privilégios apenas para
uma elite branca. Em consequência disso, eu não atentava para o quão
significativos são os lastros instalados pelo preconceito. Não entendia porque
após tantos anos da Abolição da Escravatura, impulsionada por lutas e por pressão
comercial estrangeira; após tantos anos da proclamação de uma república plagiada
pelo ideal francês de liberdade, igualdade e fraternidade, o negro ainda
caminha como se fora um escravo emancipado, como peça de comando numa estrutura
política baseada nos padrões eurocêntricos, que fazem com que mesmo aqui, na
cidade do Salvador, retrate um absurdo: ser a cidade com maior população negra
fora da África, mas que nunca elegeu um Negro como governante.
Após contato e
experiências através de estudos e leituras sobre a formação das elites
brasileira, retirei o véu da ignorância e pude ficar mais atento aos discursos
paralelos oriundos das teorias racialistas de Nina Rodrigues, Silvio Romero
dentre outros teóricos aristocratas. Hoje, apropriado de um maior senso crítico
ouso falar com mais propriedade a respeito do que me toca.
A questão é que mesmo
em maior número, os negros não foram inseridos nos ideais políticos da
republica brasileira quando da sua construção, sendo entregues à própria sorte,
espalhados pelos diversos cantos do país após o fim da escravidão, que não se
deu por bondade; seguiram sobrevivendo de atividades quaisquer, pois estavam sendo
substituídos, principalmente, por trabalhadores brancos, os imigrantes, oriundos
de um projeto político de embraquecimento do povo brasileiro. Apesar disso, para
justificar a falta de interesse em mudar a situação do Povo Negro muitos preferiram
defender a ideia de que os mesmos se auto discriminam ou não se interessam em
assumir uma posição de poder, e há até mesmo quem acredite que os negros não possuem
qualificação para assumir posições de comando.
Ora, o Povo Negro teve
dificuldades em se organizar politicamente, pois foram impedidos de participar
da vida política deste país, tiveram sua cultura e suas crenças marginalizadas
e em seguida apropriadas por um projeto de construção de uma identidade
nacional de uma pseudo democracia racial. As identidades negras eram, então, pertencentes
a uma nação aparentemente democrática, e não mais um meio de organização de um
povo oprimido. Paralelo às apropriações, não se criou uma política de inclusão
social do Povo Negro, foram criados marcadores que desqualificaram os negros enquanto
cidadãos e nos fizeram parecer incapazes para exercer o comando na sociedade,
até mesmo na sociedade da qual nós negros somos maioria.
Avanços vêm-se
apresentando na situação socioeconômica do Povo Negro, porém muito aquém do que
se espera de uma sociedade dita igualitária, e de forma contundente o negro ainda
se mantém pouco representado no comando político da nação, nos estados ou nas
capitais do país. Os negros ocupam os piores índices de condições sociais e se
apresentam em menor número nas condições de privilégio.
Sabemos que a elite
branco-heterossexual-cristã e detentora do poder, não quer e não pretende
perder seus privilégios, o que inclui os melhores postos de trabalho e os
melhores cargos políticos. Para tanto, sempre prepararam seus filhos e
apadrinhados para exercerem esses cargos, seja indo à Europa estudar, como na
época do Império, seja hoje, ocupando as vagas nos cursos de melhores estatus sociais
nas universidades públicas do país, e discursando contra as cotas sociorraciais.
Assim, creio que está
mais do que na hora de discutirmos a cor do poder, está na hora de falar da
invisibilidade da branquitude, desses que sempre estiveram no poder, mas que se
mantêm intocados como se sobre nada fossem responsáveis. Creio que devemos
discutir com mais força sobre o poder que cria marcadores e define a posição
dos corpos, enfim, sobre o poder da branquitude, porque se quisermos saber
sobre os negros, basta olharmos as estatísticas.
Denílson
Lima da Cruz[1]
[1] Estudantes
da UFBA – Universidade Federal da Bahia, no Curso de Bacharelado
Interdisciplinar e Humanidades, da Disciplina: Oficina de Textos em Humanidades,
ministrada pelo Professor: Carlos Henrique Lucas Lima.
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